quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

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Vou dar inicio a este Blogue com um texto que o Valete escreveu no myspace...

Futebol
Para alguns "intelectuais" o futebol é um espectáculo para a "ralé", um produto de entretenimento para o povo "bronco". Não compreendem como é possível sofrer, vibrar e ter alegrias orgásmicas com este jogo.



Quem realmente gosta de futebol sabe que poucas coisas na vida nos conseguem dar momentos de adrenalina e excitação como este desporto. Em grandes torneios ou jogos de elevada importância dos nossos clubes ou selecções, atingimos um certo nível de ansiedade, tensão, depressão momentânea (com a derrota) ou euforia descontrolada ( com a vitória) que nos faz ver o quão vulneráveis somos às nossas emoções e à nossa animalidade.



Para mim isto é viver. Sofrer, chorar, gritar, "explodir", libertar tudo o que temos dentro. Quem ama futebol sabe o que é isto, e provavelmente não saberão que há pessoas que nunca numa vida inteira atingem estes picos de adrenalina emocional. Isto porque infelizmente não há nada na vida dessas pessoas que lhes possa permitir experimentar sensações semelhantes às que sentimos ao assistir um jogo decisivo da nossa equipa.



Em Portugal e em todo o mundo são milhões de pessoas que dividem a sua vida entre o stress do trabalho, a rotina familiar, a fadiga física e psicológica, a frustração pela falta de dinheiro, e a melancolia e a conformação por um presente que não adivinha um futuro melhor. Também vivem entre sorrisos e abraços, mas vivem tristes, vivem resignados. Andam devagar como se não quisessem chegar ao destino que os espera, falam aborrecidos como se o seu stock de afecto já tivesse esgotado, e olham para tudo e todos com olhos ociosos como se preferissem a morte em vez da existência. No nosso país são milhões de pessoas que vivem assim, vemo-las todos os dias. Para muitas delas um jogo de futebol é o único momento em que renascem. É o único momento onde conhecem a felicidade plena. Não lhes sobra mais nada. Só o futebol.



Não sou católico como sabem, e filosoficamente sou um materialista, por isso acredito que na nossa passagem pela vida, o direito que nos cabe é o de sermos felizes. Obviamente lúcidos, conscientes, e sem nunca afectar a liberdade dos outros devemos viver para ser felizes, senão nada faz sentido. Por isso viva o futebol. Porque ele tem conseguido dar a multidões incontáveis torturadas pelo seu dia-a-dia, essa ponta de felicidade que não encontram em nenhum outro momento. Viva o Futebol, viva o direito à vida e à felicidade. Que se fodam esses "intelectuais" que só se masturbam com elaborações metafísicas e com abstraccionismos filosóficos. Cambada de seres vegetais sem alma e emoção que nunca festejaram um golo na vida. Nunca gritaram e explodiram de alegria. Sempre armados em ultra-frios e racionais em negação total com a sua animalidade e a quererem impor o que são aos outros.



A paixão por futebol ou por qualquer outro desporto, não é só irracional, é também muito objectiva porque futebol é em primeiro lugar um espectáculo artístico. É um jogo que exige alta coordenação motora, agilidade, intuição, inteligência, potência física, velocidade, precisão, planeamento, estratégia. É um jogo para homens dotados, para homens especiais que executam a altos ritmos de competição e que conseguem manipular o corpo de uma forma espantosa. Futebol é arte. É superação como todas as manifestações artísticas. Isto para além de toda a ciência táctica e estratégica dos treinadores que também nos leva para outro mundo fantástico. O mundo da táctica é o mundo do estudo, do risco, da precaução, da revelação de personalidade, da astúcia, do instinto, da psicologia. Fascinante.



Alguns dirão: Então Valete, não foste tu que disseste na música Monogamia que "tentaram trocar a verdade por futebol e novela".



Eu amo futebol, sofro com futebol, mas sou obviamente contra todo o oportunismo e manipulação que existe em volta deste desporto. O futebol deve acabar quando o jogo acaba. É bom que as pessoas apreciem e gozem o jogo, mas aquela coisa de termos na televisão horas infinitas de futebol e programas relacionados; de termos telejornais a abrir com notícias de futebol; de dirigentes desportivos a tornarem-se altas figuras mediáticas é altamente nocivo para toda a sociedade. Há pessoas que acham que tudo está bem quando a selecção ganha. Podem estar desempregadas, injustiçadas, oprimidas, mas se a selecção ganha está tudo bem. Pessoas que até eram capazes de votar em Cristiano Ronaldo para presidente da República. Podemos amar o jogo, mas não podemos deixar que ele nos cegue. Futebol pode dar-nos felicidade, mas há sempre mais vida para além disso.

Escrita bem ao estilo do Valete, reppar que eu idolatro, e que me conhece sabe bem, mas acho que para que gosta de futebol reve-se nestas palavras...

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